Desajustes

Às vezes, e contem-se estas vezes com elevada frequência, sinto que nunca estou no lugar certo. O lugar é errado, o tempo é errado e mesmo as pessoas...
É como se um grande acontecimento aguardasse a minha ausência para se fazer surgir. É ver a vida acontecer eu a assistir na primeira fila, ou melhor ainda, ser responsável de todo um trabalho de bastidores... mas nunca pisar o palco.
Com frequência me sinto só, porque a plateia está vazia e o mundo inteiro em cima do palco. Seria para mim rejubilante essa solidão se tivesse escrito todo o enredo e visse o guião ganhar vida. Mas eu nem a história percebo... história essa que julgo ser a da minha vida.
Todos actuam despreocupados e cada um faz de si mesmo. São bons actores, fazem a história parecer assustadoramente real... tão real que despertam em mim as emoções, boas e más, que muitas vezes desejaria não sentir. As alegrias dão me paz, os medos angústia. Levam nas mãos a fragilidade daquilo que sou e seguem despreocupados, por não saber.
Quando os medos são mais que as alegrias apazigua-os o que levam de mim, quando a alegria reina aquilo que sou, imaterial, pesa, volatiliza-se. Por ser frágil, volto sempre, inocente...
É pelo bem que lhes quero que destabilizo. É ao dar me que me perco. A invisibilidade dói. Fazem lá ideia se magoam o que não vêem. É mesmo assim, não vêem: não faz diferença. E então tudo o que está ali, diante de mim, é da minha responsabilidade... carrego às costas o peso do mundo, e o mundo leva me nas mãos. Por causa dessa reciprocidade culpo o mundo do erro da minha existência e ilibo me da culpa dos erros que não cometi.

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