A Sala Vazia

Ao entrar, ouvi o eco de um grito mudo, o grito de alguém que estava preso a um presente sem futuro, era o eco do meu grito. E, quando a porta se fechou atrás de mim, senti-me presa. Sem algemas, nem grades, nem amarras: presa às recordações.
O medo era tudo o que restava naquela sala vazia, juntamente com os fantasmas do meu passado... e que frenéticos fantasmas os meus.
No silêncio ouvia-se o suave bater de um coração assustado, como um grito de socorro na agitada multidão... e que ninguém ouve.
Eu sei que a única maneira de fugir deste tormento é atravessar a sinuosa e sombria sala vazia, lutar contra os demónios por mim criados, que apesar do meu cansaço terei que derrotar! E o medo, ah o medo... define como bravos aqueles que o conseguem derrotar, pois que se prepare, que será derrotado mais uma vez.
Tantas vezes enchi o peito de coragem e me preparei para atravessar a sala vazia, tantas. Mas aí as pernas falhavam e o coração apertava, o suor escorria pelo corpo que, possuído pelo medo se imobilizava, então, a visão turvava pelas lágrimas salgadas que escorrendo me marcavam o rosto: era a vitória do medo.
"Desta vez será diferente" pensava eu com esperança quando me preparava para mais uma vez atravessar a sala vazia, mas era sempre igual: é tão mais fácil dizer do que fazer. Se fizesse tudo o que digo estaria agora bem longe, e não estou.
É com as falhas que se aprende, por isso falhamos tantas vezes. Todos nós temos uma sala sombria para atravessar e, quaisquer que sejam os obstáculos havemos de falhar uma vez ou outra, não para nos deixarmos esmorecer, mas para que a chegada ao outro lado seja muito mais triunfante, mais apreciada.
Preparo-me agora, mais uma vez, para atravessar a sala sem a falsa ilusão de que desta vez seja diferente, mas com a certeza de que vou continuar a tentar, porque a cada tentativa estou um passo mais próxima do sucesso.

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